quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

O que a memória ama

“O que a memória ama, fica eterno.”
Texto recebido via WhatsApp. Autora: Fabíola Simões.


Quando eu era pequena, não entendia o choro solto da minha mãe ao assistir a um filme, ouvir uma música ou ler um livro. O que eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de compreender. O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano.

É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos. Crianças têm o tempo a seu favor e a memória ainda é muito recente. Para elas, um filme é só um filme; uma melodia, só uma melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade.

Diante do tempo envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente parte. Porém, para a memória ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis. Nossos filhos são crianças, nossos amigos estão perto, nossos pais ainda vivem.

A frase do título é de Adélia Prado: "O que a memória ama, fica eterno". Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando nos damos conta nossos baús secretos – porque a memória é dada a segredos – estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.

A capacidade de se emocionar vem daí: quando nossos compartimentos são escancarados de alguma maneira. Um dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, ninguém nota, mas aquela música já fez parte de você – foi o fundo musical de um amor, ou a trilha sonora de uma fossa – e mesmo que tenham se passado anos, sua memória afetiva não obedece a calendários, não caminha com as estações; alguma parte de você volta no tempo e lembra aquela pessoa, aquele momento, àquela época...

Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. É comum ver amigos da juventude se reencontrando depois de anos – já adultos ou até idosos – e voltando a se comportar como adolescentes bobos e imaturos. Encontros de turma são especiais por isso, resgatam as pessoas que fomos, garotos cheios de alegria, engraçadinhos, capazes de atitudes infantis e debiloides, como éramos há 20 ou 30 anos. Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos... mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas.

A memória não permite que sejamos adultos perto de nossos pais. Nem eles percebem que crescemos. Seremos sempre "as crianças", não importa se já temos 30, 40 ou 50 anos. Pra eles a lembrança da casa cheia, das brigas entre irmãos, das estórias contadas ao cair da noite... ainda são muito recentes, pois a memória amou, e aquilo se eternizou.

Por isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que por algum motivo deixou de fazer parte de nossas vidas. Dizem que o tempo cura tudo, mas não é simples assim. Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na dor. Mas aquilo que amamos tem vocação para emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em quando. Somos a soma de nossos afetos, e aquilo que amamos pode ser facilmente reativado por novos gatilhos: somos traídos pelo enredo de um filme, uma música antiga, um lugar especial.

Do mesmo modo, somos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex-amores, amigos, irmãos. E mesmo que o tempo nos leve daqui seremos eternamente lembrados por aqueles que um dia nos amaram.

Tarde de Domingo no Sertão


Linda tarde de domingo...
Nada a fazer...
Estou de passagem por uma pequena cidade, longe de casa, no sertão do Brasil...

Já percorri todas as quatro ruas da Vila...
Vi o povo simples e feliz conversando com os vizinhos embaixo de frondosas árvores...

Um vento suave sopra à noroeste amenizando o calor do sol forte já iniciando seu declínio ao Oeste...

Fui à missa de manhã na pequena Capela...
Me emocionei pela simplicidade e pureza da fé do povo...
Rezei por mim e por minha família... Também lembrei da imensa fé de minha mãe...
Chorei de saudades de um tempo feliz que nunca pude viver...

Comidinha caseira feita com amor no fogão de lenha pela velha senhora dona da pensão humilde, mas extremamente limpa ... Dá até pra ver minha imagem refletida no vermelhão encerado do chão lustrado pelo pesado escovão de ferro...

Melancolia pelas lembranças da passada infância...
Nostalgia pela saudade do tempo que se foi...
Solidão pelo vazio na alma pela insegurança em busca do amor ...

Até quando este coração vai suportar a falta de um grande amor...
Uma Mulher Carinhosa e Sonhadora que seja a razão de minha paixão...
Até quando...

Pensamentos do Tio Vavá...
Em algum lugar dos sertões no interior do Brasil...