GAUDIUM ET SPES (Alegrias e Esperanças)
A quarta das constituições do Vaticano II trata fundamentalmente das relações entre a Igreja Católica e o mundo onde ela está e atua. O seu texto é profundo e completo, constituindo a base de toda a Doutrina Social da Igreja. É considerada constituição pastoral, pois depois do "Proêmio" e da "Introdução", onde indica sucintamente a metodologia e a condição do ser humano no mundo, apresenta na primeira parte a compreensão do Homem e da sociedade em chave teológica (parte doutrinária), e na segunda de alguns problemas concretos (parte pastoral).
Podemos dizer que a maior riqueza deste documento é apresentar um olhar profético, eclesiológica e pastoral sobre a sociedade, sempre em busca de promoção da justiça e da paz. Ela visa "iluminar o mistério do Homem e cooperar na solução das principais questões do nosso tempo" (GS, n. 10). A sua primeira frase traduz o espírito do próprio Concílio como um todo: "As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração. Porque a sua comunidade é formada por homens, que, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do reino do Pai, e receberam a mensagem da salvação para a comunicar a todos. Por este motivo, a Igreja sente-se real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história" (GS, n. 1). Aí esta expressa claramente a nova concepção de Igreja assumida pelo Concílio, como Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do Espírito.
A "Introdução" da Gaudium et Spes recorda a necessidade de a Igreja conhecer o mundo e acompanhar as suas transformações técnicas e sociais, colocando-nos, ademais, a condição do Homem no mundo de hoje. Neste sentido, faz uma contextualização geral dos problemas, das alegrias e das esperanças do Homem da época, que em muito se aplicam ao Homem de hoje.
Já na primeira parte, o documento trata da doutrina da Igreja acerca do ser humano e do mundo. Aborda temas como a dignidade humana (n. 12-22), a condição humana (n. 23-32), a atividade do homem no mundo (n. 33-39) e o papel da Igreja no mundo (n. 40- 45). Enfatiza que o ser humano é um ser social, de ralações, e que deve estar constantemente atento ao diálogo e ao respeito.
Já na segunda parte, mais pastoral, quando confrontada com a primeira. Neste sentido, o documento traça as linhas pastorais, procurando dar respostas à sua missão no mundo: a Igreja deve ser fermento e alma da sociedade, deve santificar/iluminar o mundo e conduzir todos ao Reino. Considera vários aspectos da vida humana e da sociedade contemporânea, respondendo a problemas concretos de maior urgência para a época: matrimônio e família (n. 47-52), progresso cultural (n. 53-62), vida econômico-social (n. 63-72), vida de comunidade política (n. 73-76) e promoção da paz e da comunidade internacional (n. 77-90). Essa parte era inicialmente considerada "anexos", mas, devido à sua importância e aos debates gerados, foi incluída no corpo do documento.
Analisando com cautela a atual situação da sociedade, em clima de crise econômica e, principalmente, de crise de valores, constatamos que os problemas não são diferentes, assumindo apenas uma nova face, mais moderna. Sendo o último documento aprovado, a Gaudium et Spes, foi privilegiada e bebeu de toda a nova mentalidade conciliar. Ela põe em prática todas as novidades do Concílio, especialmente o que diz respeito a uma Igreja mais aberta, comprometida e missionária. Por isso, o conteúdo apresentado pela Gaudium et Spes é de uma profundidade e beleza impressionantes, e merece ser retomado com freqüência por todos os cristãos. Fazendo esse exercício traremos sempre à tona nosso compromisso de "iluminar o mundo inteiro com a mensagem de Cristo e de reunir sob um só Espírito todos os homens, de qualquer nação, raça ou cultura" (GS, n.92).
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