A Irmã Cristina Scuccia de 25 anos, uma siciliana que vive em Milão é freira das Ursulinas da Sagrada Família e ao se apresentar no “The Voice”, versão Italiana do Reality Show Musical na noite de 19 de Março impressionou os Jurados ao cantar No One, de Alicia Keys, emocionou e causou espanto por ter subido ao palco da atração, transmitida pelo canal Rai 2, com seu hábito de freira.
A afirmação do rapper J-Alex, primeiro Jurado que aprovou o talento da Cantora ao virar-se de frente para o palco, “Eu sou o Diabo e você a água Benta”, nos traz de volta a reflexão sobre essa conturbada relação dos Homens para com Deus, suscitando o velho debate em torno da questão “O que é Profano e o que é Sagrado?”.
Tatuado dos pés a cabeça, a reação do Jurado sobre o espetacular desempenho da Freira Cantora, lembrou-me a de Pedro em Lucas 5, 8-9 quando, após a pesca milagrosa, tomado pelo espanto e assombro, o Apóstolo afirmou “Retira-te de mim Senhor, porque sou um homem pecador”. Sagrado e Humano parece ser coisas incompatíveis, que não se pode e nem se deve misturar.
A solução poderia ser a de fantasiar o Sagrado para que o fato não fosse tão impactante, talvez esta a razão que levou a Jurada Raffaella Carrá, a última a virar-se para o palco, a questionar se a candidata era uma Freira de verdade, ao que Irmã Cristina respondeu “Com certeza” e na sequência da curta entrevista, a Jurada indagou qual seria a reação do Papa Francisco, onde novamente a Freirinha surpreendeu respondendo que aguardava um telefonema do Papa, felicitando-a por estar evangelizando naquele palco.
Confesso que a primeira vez que acessei a apresentação foi por mera curiosidade, mesmo sendo a primeira vez, algo fascinou-me e encantou. Entre os já 37 milhões de acessos, marca recorde no último domingo pelo Vídeo Viral, algumas dezenas de acesso foram da minha máquina. O olhar espantado dos Jurados, a reação diante do inusitado. Como é que o Sagrado vem se apresentar em um ambiente de Rock, mal visto pelos ortodoxos de todos os cantos do mundo? Rock'n Roll, cenário de barbudões, carecas, tatuagens que até parecem diabólicas, clima para perversidades e outros desvios de caráter. Um ambiente nada propício para o Sagrado, presente na pessoinha maravilhosa e angelical da Irmã Cristina, simpaticíssima, comunicativa, extrovertida ao cantar e ao dançar, com o carisma nato do canto. Sou ruim até para entender o Italiano, mas um dos jurados disse algo parecido com “O Céu baixou aqui em nosso meio”, o Céu de Deus, a ternura e a beleza de Deus, o amor e a misericórdia, o Deus alegre e descontraído que também curte um bom rock e que irradia uma força que os Jurados e a plateia não tinham ainda experimentado.
O mais bonito é a consciência da Irmã Cristina, sobre o seu carisma de Vocacionada, por instantes experimentou a glória, a fama e o sucesso, mas nota-se que isso não sufocou o chamado Divino para a Vida de Consagrada. Entretanto, o Sagrado presente na Vida e no coração dessa Freira não a torna uma Super Mulher, uma deusa que baixou sobre a terra.
Não se sabe o que vai ocorrer com a Irmã Cristina, após a sua fama que com certeza será mundial. Mas de uma coisa tenho certeza, ela simboliza neste momento e muitíssimo bem, o Sagrado atuante e presente na Igreja e na Vida de todos os que creem. Ela é talvez o grande sinal de que, nesses tempos novos do Pontificado de Francisco, a Igreja dará um passo decisivo na direção do “Mundo”, visto como profano, pervertido, irrecuperável. O Sagrado sai da grande Eclésia, como pediu o Concílio Vaticano II. Acho que ninguém poderá detê-lo, ele sai do mofo e das velharias religiosas para levar todo o seu encanto, a sua ternura, o seu carisma, a Paz e a beleza Divina, a um mundo que anda com medo de aproximar-se de Deus.
E lembrando-me de Jesus – o Filho de Deus, que jantou na casa de pecadores como Mateus, Zaqueu, Simão, que bebeu o delicioso vinho, cantou e dançou na Festa da Vida, lembrando de Jesus, o eterno Amor que conquistou Madalena e que mentes doentias tentam banalizar, confesso que não me contive quando assisti a cena final....
O rapper J-Alex, tatuado dos pés á cabeça, que se sentiu um diabo diante da Santidade irradiada pela Freira, ao ser por ela escolhido para ser o seu técnico orientador, pulou da sua cadeira de Jurado e correndo em direção ao palco com incontida emoção e alegria, abraçou a Irmã Cristina e rodopiou com ela por alguns momentos, bem abraçados, Sagrado e Profano em um rodopio de Vida e Esperança.
E o Sagrado deixou-se tocar e abraçar. Jesus, o Verbo Encarnado armou a sua tenda em meio aos nossos barracos. É isso que Deus gritou lá das alturas do céu, no The Voice da Itália, na meiguice da Irmã Cristina, pelo menos para mim...
Diácono José da Cruz
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim SP
E-mail cruzsm@uol.com.br
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