Fundadora da Congregação das Irmãs Clarissas
Sob a regra e direção de São Francisco de Assis
Santa Clara, nasceu em Assis, na Itália, filha de pais ricos e piedosos. O nome de Clara foi-lhe dado em virtude de uma voz misteriosa que a mãe Hortulana ouviu, quando, antes de dar à luz a filha, fazia fervorosas orações diante de um crucifixo. “Nada temas! – disse aquela voz – o fruto de teu ventre será um grande lume, que iluminará o mundo todo”. Desde pequena, Clara era em tudo bem diferente das companheiras. Quando meninas dessa idade costumam achar agrado nos brinquedos e bem cedo revelam também qualidades pouco apreciáveis, Clara fazia exceção à regra. O seu prazer era rezar, fazer caridade e penitência. Aborrecia a vaidade e as exibições e tinha aversão declarada aos divertimentos profanos.
Vivia naquele tempo o grande Patriarca de Assis. São Francisco. A este se dirigiu Santa Clara, comunicando-lhe o grande desejo que tinha de abandonar o mundo, fazer o voto de castidade e levar uma vida da mais perfeita pobreza. São Francisco reconheceu em Clara uma eleita de Deus e animou-a a persistir nas piedosas aspirações. Depois de ter examinado e sujeitado a duras provas o espírito da jovem, aconselhou-lhe abandonar a casa paterna e tomar o hábito de religiosa. Foi num Domingo de Ramos, que Clara executou este plano, dirigindo-se à Igreja de Porciúncula, onde São Francisco lhe cortou os cabelos e lhe deu o hábito de penitência. Clara contava apenas 18 anos, quando disse adeus ao mundo e entrou para o convento das Beneditinas de Assis.
O procedimento estranho de clara, provocou os mais veementes protestos dos pais e parentes, que tudo tentaram , para tirar a jovem do convento. Clara opôs-lhes firme resistência. Indo à Igreja, segurou-se ao altar e com a outra mão, mostrou aos pais a cabeleira cortada e disse-lhes: “Deveis saber que não quero outro esposo, senão a Jesus Cristo. A este escolhi e não mais o deixarei”. Clara tinha uma irmã mais moça, de quatorze anos, de nome Inês. Esta, não suportando a separação e animada por Clara, poucos dias depois, abandonou também a casa e entrou para o convento onde Clara estava. Com este gesto não se conformaram os parentes. Ao convento, foram no intuito de obrigar a jovem a voltar trazê-la à viva força para casa, fosse qual fosse a resistência que encontrariam.
A resistência realmente foi, tão resoluta da parte de Inês, que tiveram de desistir das suas tentativas. Também a ela São Francisco deu o hábito religioso. Apenas provisória podia ser a estada das duas irmãs no convento das Beneditinas. Francisco havia de dar, pois, providências para colocá-la em outra parte.
Adquiriu a igreja de São Damião e uma casa contígua para as novas religiosas, às quais, logo se associaram a outras companheiras. Sob a direção de Clara, formaram estas a primeira comunidade que, desenvolvendo-se cada vez mais, tomou a forma de nova Ordem religiosa. Esta Ordem, de origem tão humilde, tornou-se celebérrima na Igreja Católica, a que deu muitas santas e muito trabalhou e trabalha pelo engrandecimento do reino de Cristo sobre a terra. Obedecendo à Ordem de São Francisco, Clara aceitou o cargo de superiora, e exerceu-o durante quarenta e dois anos. Deu à Ordem regras severas sobre a observância da pobreza. Uma oferta de bens imóveis, feita pelo Papa, Clara respeitosamente a recusou. Não só na observação da pobreza, como também na prática de outras virtudes, Clara era modelo exemplaríssimo para as suas filhas espirituais. Grande lhe foi a satisfação, quando da própria mãe e de outras parentas recebeu o pedido de admissão na Ordem. Além destas, entraram três fidalgas da casa Ubaldini na nova Ordem das Clarissas. Julgaram maior honra associar-se à pobreza de Clara do que viver no meio dos prazeres dum mundo enganador.
Na prática da penitência e mortificação, Clara era de tanto rigor, que seu exemplo podia servir mais de admiração do que de imitação. O próprio São Francisco aconselhou-lhe que usasse de moderação, porque do modo de que vivia e martirizava o corpo, era de recear que não pudesse ter longa vida.
Severíssima para consigo, era inexcedível na caridade para com o próximo. Seu maior prazer era servir aos enfermos. Uma das virtudes que se lhe observava, era o grande amor ao Santíssimo Sacramento. Horas inteiras do dia e da noite, passava nos degraus do altar. O SS. Sacramento era seu refúgio, em todos os perigos e dificuldades.
Aconteceu que a cidade de Assis fosse assediada pelos sarracenos que, a serviço do Imperador Frederico II, inquietavam a Itália. Os guerreiros tinham já galgado o muro, justamente onde estava o convento das clarissas. A superiora, enferma, guardava o leito.
Tendo notícia da invasão dos bárbaros no convento, Clara levantou-se e, ajudada pelas filhas, dirigiu-se ao altar do SS. Sacramento, tomou nas mãos a Sagrada Hóstia e assim, munida de Nosso Senhor, dirigiu-lhe o seguinte apelo em voz alta: “Quereis, Senhor, entregar aos infiéis estas vossas servas indefesas que nutris com Vosso amor? Vinde em socorro de vossas servas, pois não as posso proteger.” Ditas estas palavras, ouviu-se distintamente uma voz dizer: “Serei vossa proteção hoje e sempre”. Os fatos provaram que não se tratava de coisa imaginária. Dos sarracenos apoderou-se um pânico inexplicável; grande parte deles fugiu às pressas; alguns, que já haviam galgado o cimo do muro, caíram para trás. Foi visivelmente a devoção de Santa Clara ao SS. Sacramento, que salvara o convento e a cidade, do assalto do inimigo. Outros muitos milagres fez Deus por intermédio de sua serva, que a estreiteza de espaço não nos permite narrar.
Clara contava sessenta anos, dos quais passara 28 anos sofrendo grandes enfermidades. Por maiores que lhe fossem as dores, nenhuma queixa lhe saía da boca. Na meditação da sagrada Paixão e Morte de Nosso Senhor achava o maior alívio. “Como passa bem depressa a noite, dizia, ocupando-me com a Paixão de Nosso Senhor”. Em outra ocasião, disse: “Homem haverá que se queixe, vendo a Jesus derramar todo o seu sangue na Cruz? Sentindo a proximidade da morte, recebeu os Santos Sacramentos e teve a satisfação de receber a visita do Papa Inocêncio IV, que lhe concedeu uma indulgência plenária. Quase agonizante, disse ainda estas palavras: “ Nada temas, minha alma; tens boa companhia na tua passagem para a eternidade. Vai em paz, porque Aquele que te criou, te santificou, te guardou como a mãe ao filho, e te amou com grande ternura. Vós, porém, meu Senhor e meu Criador, sede louvado e bendito”. Esta visão lhe apareceram muitas virgens, entre as quais uma de extraordinária beleza, que lhe vieram ao encontro para leva-la ao céu. Santa Clara morreu em 12 de agosto de 1253, mais em conseqüência do amor divino, do que da doença que a martirizava. Foi em atenção aos grandes e numerosos milagres que se lhe observaram no túmulo, que o Papa Alexandre IX, dois anos depois, a canonizou.
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