domingo, 11 de abril de 2021

LITURGIA DOMINICAL – 11/04/2021

2.º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B

 “Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (Jo 20,29).

Num só coração e numa só alma, nos reunimos no Dia do Senhor para glorificar a Vida que vence a morte. Cristo Ressuscitado, nossa Páscoa e certeza definitiva, se manifesta à sua Igreja reunida, que somos nós, os batizados, e nos oferece o dom da paz, fruto de sua ressurreição. Hoje a Igreja celebra a Divina Misericórdia. Sem excluir ninguém, Deus quer manifestar o seu amor incondicional, oferecendo por meio daquele que apresenta as marcas da Paixão, o perdão e a reconciliação a todos que o buscam.

Neste segundo domingo da Páscoa, queremos bendizer ao Deus da Vida pela ressurreição do seu Filho Jesus. Ele comunica à comunidade dos Apóstolos e também a nossa, pelo Espírito Santo, a alegria, a partilha fraterna e a vida nova. Hoje é o domingo da "Divina Misericórdia". Somos convidados a deixar de lado o medo que nos impede de sermos autênticas testemunhas do Ressuscitado. Acolhamos o dom da paz e da reconciliação que Jesus nos oferece. Que a sua paz e misericórdia estejam sempre conosco e o seu Espírito Santo guie a nossa fé, levando-nos a confessar: "Meu Senhor e meu Deus".

TEMPO PASCAL

O Tempo Pascal encerra grandes mistérios que a Igreja celebra.

Os cinqüenta dias que se prolongam desde o Domingo da Ressurreição até ao Domingo do Pentecostes celebram-se na alegria e exultação como um único dia de festa, melhor, como «um grande domingo»” (Santo Atanásio, Epístola Festa, 1: PG 26, 1366; cit. in NGALC, 22). Todo o Tempo da Páscoa é igualmente Páscoa: “Os domingos deste tempo são considerados como ‘Domingos da Páscoa’; por isso, os domingos que se seguem ao Domingo da Ressurreição designam-se domingos II, III, IV, V, VI, VII da Páscoa” (NGALC, 23).


LEITURAS DA MISSA


Primeira Leitura (Atos 4,32-35)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.

4 32 A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era comum. 33 Com grande coragem os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus. Em todos eles era grande a graça. 34 Nem havia entre eles nenhum necessitado, porque todos os que possuíam terras e casas vendiam-nas, 35 e traziam o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos apóstolos. Repartia-se então a cada um deles conforme a sua necessidade.
— Palavra do Senhor!
— Graças a Deus!

Salmo Responsorial 117/118

Dai graças ao Senhor, porque ele é bom;
“Eterna é a sua misericórdia!”

A casa de Israel agora o diga:
“Eterna é a sua misericórdia!”
A casa de Aarão agora o diga:
“Eterna é a sua misericórdia!”
Os que temem o Senhor agora o digam:
“Eterna é a sua misericórdia!”

Empurraram-me, tentando derrubar,
mas veio o Senhor em meu socorro.
O Senhor é minha força e o meu canto
e tornou-se para mim o salvador.
“Clamores de alegria e de vitória
Ressoem pelas tendas dos fiéis”.

“A pedra que os pedreiros rejeitaram
tornou-se agora a pedra angular”.
Pelo Senhor é que foi feito tudo isso:
que maravilhas ele fez a nossos olhos!
Este é o dia que o Senhor fez para nós,
alegremo-nos e nele exultemos!


Segunda Leitura (1 João 5,1-6)
Leitura da primeira carta de são João.

5 1 Todo o que crê que Jesus é o Cristo, nasceu de Deus; e todo o que ama aquele que o gerou, ama também aquele que dele foi gerado. 2 Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. 3 Eis o amor de Deus: que guardemos seus mandamentos. E seus mandamentos não são penosos, 4 porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. 5 Quem é o vencedor do mundo senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus? 6 Ei-lo, Jesus Cristo, aquele que veio pela água e pelo sangue; não só pela água, mas pela água e pelo sangue. E o Espírito é quem dá testemunho dele, porque o Espírito é a verdade.
— Palavra do Senhor!
— Graças a Deus!

ACLAMAÇÃO (Jo 20,29)
Aleluia, aleluia, aleluia!
Acreditaste, Tomé, porque me viste. Felizes os que creram sem ter visto.


Evangelho (João 20,19-31)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
— Glória a vós, Senhor!

20 19 Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes ele: "A paz esteja convosco"! 20 Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor. 21 Disse-lhes outra vez: "A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós". 22 Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: "Recebei o Espírito Santo. 23 Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos". 24 Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. 25 Os outros discípulos disseram-lhe: "Vimos o Senhor". Mas ele replicou-lhes: "Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não acreditarei"! 26 Oito dias depois, estavam os seus discípulos outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse: "A paz esteja convosco"! 27 Depois disse a Tomé: "Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé". 28 Respondeu-lhe Tomé: "Meu Senhor e meu Deus!" 29 Disse-lhe Jesus: "Creste, porque me viste. Felizes aqueles que crêem sem ter visto!" 30 Fez Jesus, na presença dos seus discípulos, ainda muitos outros milagres que não estão escritos neste livro. 31 Mas estes foram escritos, para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.
— Palavra da Salvação.
— Glória à Vós Senhor!


LITURGIA DA SEMANA DE 12 A 18 DE ABRIL

12.04 - 2ª Br - At 4,23-31, Sl 2, Jo 3,1-8 - São Júlio I
13.04 - 3ª Br - At 4,32-37, Sl 92(93), Jo 3,7b-15 - São Martinho I
14.04 - 4ª Br - At 5,17-26, Sl 33(34), 2-3.4-5.6-7.8-9, Jo 3,16-21 - Santa Liduína
15.04 - 5ª Br - At 5,27-33, Sl 33(34), Jo 3,31-36 - São Cesar de Bus
16.04 - 6ª Br - At 5,34-42, Sl 26(27), Jo 6,1-15 - Santa Bernadete Soubirous
17.04 - Sb Br - At 6,1-7, Sl 32(33), Jo 6,16-21 - Santo Aniceto
18.04 - Dom Br -3ºPáscoa- At 3,13-15.17-19, Sl 4(5), 1Jo 2,1-5a, Jo Lc 24,35-48 - São Galdino

Fonte: http://www.npdbrasil.com.br/religiao/evangelho_do_dia_semana.htm

 

 

REFLEXÃO DOMINICAL I

PAZ E MISERICÓRDIA


Dom Angelo Ademir Mezzari, RCJ
Bispo Auxiliar de São Paulo

Iniciamos o tempo pascal e a liturgia nos ajuda a viver o grande mistério da nossa fé, a Ressurreição de Jesus, o Cristo. A Igreja nos convida a celebrar os cinqüenta dias entre o domingo da Ressurreição e o domingo de Pentecostes com imensa alegria e exultação, como se fossem uma grande festa, um grande domingo. Por isso mesmo se chamam “domingos da Páscoa”, como este segundo, chamado da “Divina Misericórdia”.

Somos chamados a ser um sinal visível de Cristo, testemunhando a sua misericórdia, no perdão e na paz. Jesus, o Ressuscitado, está presente na vida da comunidade, se sente a sua presença na ação do Espírito que vai conduzindo a Igreja, para realizar o Reino de Deus (Jo 20, 19- 31).

A presença do Ressuscitado faz a comunidade cristã ser igreja de portas abertas, em saída. De fato, Jesus se apresenta no meio da comunidade saúda os discípulos com a saudação da plenitude dos bens messiânicos – “shalom” – a paz. Fruto é a alegria, que abre à missão, enviados pela força do Espírito Santo.

Os discípulos, e a Igreja, continuam a missão de Jesus, manifestando por palavras e obras o amor gratuito e misericordioso do Pai. Na dúvida de Tomé, sua incredulidade, diante do Cristo Ressuscitado, temos a sua resposta decidida, “Meu Senhor e meu Deus”, confirmando sua fidelidade.

Em tudo e sempre, a paz e a misericórdia, na fé, para que “acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo 20, 31). Só o amor é verdadeiramente extraordinário, pois Deus é amor ( 1 Jo 5,1-6). Sua paternidade é universal e se encarna nas relações fraternas entre as pessoas, pois amamos a Deus guardando seus mandamentos.

Que bela e sugestiva Palavra: “Pois isto é amar a Deus: observar os seus mandamentos” (1 Jo 5,3). Sede amorosos e misericordiosos, como vosso Pai é cheio de misericórdia e compaixão. No centro do anúncio e testemunho cristão o amor ao próximo como expressão do amor a Deus. Deus é Pai de todos, nós somos seus filhos e filhas, somos todos irmãos. A fé consiste na adesão plena a Jesus Cristo até a entrega da própria vida, sustentados pelo Espírito da verdade, com fidelidade. Não sejamos incrédulos, mas fiéis.

O retrato da vida e missão das primeiras comunidades (At 4,32-35) nos mostra um mundo novo, uma nova realidade, um só coração, uma só alma, tudo em comum, testemunhando a ressurreição do Senhor, praticando seu projeto de amor. Esta unidade e comunhão expressa a vitória de Cristo sobre a morte, tendo como sinal e fruto a partilha, para que ninguém passe necessidade, vivam com dignidade.

É a verdadeira paz, com justiça, na gratuidade, onde a vida é plena e abundante. É justamente no Cenáculo – Evangelho de hoje – que está o grande anúncio da misericórdia divina e onde Jesus confia aos apóstolos o seu ministério. Ao mostrar-lhes as mãos e o lado, ou seja, suas chagas, as feridas da paixão, diz : “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também vos envio....Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20,21-23).

É deste coração ferido, onde corre “sangue e água” (Jo 19,34) que nasce a grande onda de misericórdia que inunda a humanidade. Sangue que evoca o sacrifício da cruz e o dom eucarístico, água que recorda não somente o batismo, mas também o dom do Espírito Santo.

Deixemo-nos inundar pela misericórdia divina. Que a paz do Ressuscitado nos abra o coração para a missão, somos enviados a evangelizar, como discípulos missionários do Senhor.

Fonte: http://regiaoipiranga.com.br/sites/default/files/folheto_povo_deus/ano_45-b_-_28_-_2o_domingo_de_pascoa.pdf

 

 

REFLEXÃO DOMINICAL II

CHEIOS DE ALEGRIA POR VER O SENHOR


(*) Marcus Mareano

INTRODUÇÃO GERAL

 

Imaginemos como os discípulos se encontravam após a morte do mestre Jesus! Eles tinham aprendido de Jesus, convivido, testemunhado muitas coisas e, de repente, tudo parecia terminar com uma morte de cruz: expectativas, sonhos, projetos etc. Entretanto, a morte é vencida e Jesus surpreende seus amigos em uma visita inusitada.

Os “ecos” da celebração da Vigília Pascal continuam. A proclamação da ressurreição acontece neste domingo com a cena do encontro de Jesus com os discípulos, quando estavam reunidos com portas fechadas por medo dos judeus. Faz-nos pensar nos tantos fechamentos internos que possuímos, nos medos obscuros que nos atormentam e nas ameaças que imaginamos. A visita do Senhor transforma os receios em alegria indescritível.

Se já não podemos tocar o Senhor na materialidade, como os discípulos foram convidados a fazer, podemos tocá-lo na experiência de fé por meio da liturgia. A oração ultrapassa o espaço e o tempo e, assim, participamos do mistério que ouvimos na Palavra de Deus.

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

 

1. I leitura (At 4,32-35)

 

A primeira leitura traz o segundo dos três relatos (2,42-47; 5,12-16) do ideal da vida cristã no princípio da nossa era, o qual ainda serve de parâmetro para nós, na atualidade. Esses textos apresentam-se como “sumários”, na narrativa de Atos dos Apóstolos, para demonstrar o crescimento e a identidade dos cristãos, os quais, naquele período, eram um grupo minoritário no Império Romano.

A assiduidade no ensinamento apostólico, a comunhão fraterna, a partilha do pão e a oração em comum caracterizavam a quem seguia Jesus Cristo. A vivência da fé em Cristo provocava nova maneira de viver, diferente da dos grupos religiosos já existentes. A mensagem de Jesus atraía mais pelo entusiasmo com o qual era vivida do que por força da oratória e da argumentação. Por esse testemunho, o número dos que se convertiam aumentava e era destaque no relato de Lucas (At 2,47; 4,4; 5,14; 6,1.7; 9,31; 11,21.24; 12,24; 13,48-49; 16,5; 19,20).

Da mesma forma, séculos depois, o sonho da fraternidade universal e da partilha de bens devem permanecer como distintivo cristão na sociedade. Enfrentamos outros desafios e vivemos em outro contexto, diferentes dos do século I, porém essa leitura ensina como viver melhor a relação com as pessoas e com as coisas. Trata-se de ensinamento cristão que pode ultrapassar os âmbitos da confissão de fé e chegar a pessoas de outras religiões, para um ideal de vida comum no nosso planeta tão ameaçado.

2. II leitura (1Jo 5,1-6)

 

Neste e nos próximos domingos, acompanharemos, na segunda leitura, trechos da primeira carta de João, um escrito do Novo Testamento com poucas características de uma carta e mais parecido com uma meditação, destinada aos cristãos que se sentiam inseguros na relação de comunhão com Deus.

Os primeiros destinatários desse texto enfrentavam desafios para professarem a fé em Jesus e para viverem o amor fraterno. A comunidade cristã é chamada a “vencer”, por meio da fé, o mundo (representação das adversidades). A vitória se realiza no amor a Deus e ao próximo.

Quem acredita que Jesus é o Filho gerado por Deus deve amar aqueles que foram gerados por ele (irmãos). O amor a Deus se torna visível no amor ao próximo (cf. 4,21; Mt 22,37-40; Jo 14,15.21; 15,17). E o critério concreto de que amamos os filhos de Deus é que, procurando amar a Deus, observamos seus preceitos, pois Deus deu orientações precisas para amar os outros em correspondência a seu amor por nós. Assim como o Senhor nos ama, nós devemos amar.

A carta ainda recorda em que consiste o amor: “guardar os mandamentos” (v. 3), os quais, como disse Moisés a respeito dos preceitos da Antiga Aliança, “não são difíceis” (Dt 30,11). Por essa razão, quem foi gerado por Deus já venceu o mundo, e a vitória é a fé em Deus.

O texto da leitura se encerra de forma semelhante a como se iniciou: “Quem é que vence o mundo senão o que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (v. 5). Os versículos 1 e 5 formam uma “moldura” da passagem e expressam os dois termos da fé que João quis reforçar com seu Evangelho: fé em Jesus como “Messias” e “Filho de Deus” (Jo 20,31).

3. Evangelho (Jo 20,19-31)

 

No Evangelho deste domingo, lemos um dos tantos relatos das chamadas “aparições” do Ressuscitado à comunidade. O v. 19 descreve um pouco o estado do grupo de Jesus: eles estavam reunidos com portas fechadas por medo dos judeus – situação aguardada e comum para um grupo cujo líder foi crucificado.

Jesus vai aos discípulos e se coloca no meio deles, desejando-lhes a paz e apresentando suas mãos e seu lado como sinal de acolhida e prova de sua identidade. Aquele que fora abandonado regressa para aqueles que o abandonaram. Ele, que caminhou com os discípulos por tantas estradas, encontra-os fechados e quietos naquela sala.

Os discípulos se enchem de alegria por verem o Senhor (v. 20). A situação conflituosa e perturbadora é convertida em profunda alegria, entusiasmo, ânimo e coragem. O inverso daquilo que os discípulos sentiam, antes desse encontro com o Ressuscitado. A experiência da ressurreição de Jesus é transformadora, empolgante e arranca o ser humano da própria angústia, abrindo-o à felicidade plena e ao sentido da vida.

Ainda falando, Jesus acrescenta: “Como o Pai me enviou, também vos envio” (v. 21). Os discípulos têm a tarefa de anunciar e testemunhar aquela experiência de paz que lhes converteu o coração. Doravante, a intrepidez, a ousadia e o destemor devem caracterizar a nova postura de vida e a proclamação da ressurreição de Jesus, que apresenta também suas chagas glorificadas como sua identificação e registro de sua entrega amorosa a Deus e à humanidade. Tamanha graça aquela que os discípulos tinham, que não podiam retê-la para si mesmos. Eles são enviados para transmiti-la, a fim de também converterem os medos e as mortes em destemor e vida nova.

Para isso, os discípulos recebem o Espírito Santo, continuando a missão de Jesus Cristo, proclamando e realizando o que foi sua missão: o perdão dos pecados (v. 23). Testemunhar o Ressuscitado significa viver impelido pelo Espírito de Deus, que foi soprado sobre todos, dando-nos vida nova, plena e em comunhão definitiva com Deus.

A segunda parte do Evangelho deste dia apresenta a experiência de Tomé (v. 24-28), representação de quem quer acreditar na ressurreição de Jesus. Ele não estava com o grupo por ocasião do encontro entre Jesus e os outros discípulos (v. 24), apenas ouve o testemunho deles: “Nós vimos o Senhor” (v. 25). Tomé anseia pelo mesmo encontro e, além disso, quer colocar os dedos nas marcas do prego e a mão no lado aberto – demanda de quem escuta uma notícia a respeito de um evento imprevisível.

João narra novamente um encontro de Jesus com seus discípulos no primeiro dia da semana, desta vez com a presença de Tomé (v. 19.26). O desejo de paz de Jesus para seu grupo continua (v. 26). Em seguida, ele convida Tomé a pôr o dedo na ferida e estender a mão para colocá-la no seu lado. Um convite à experiência de fé e à aproximação do mistério da ressurreição.

A reação de Tomé foi de reverência e reconhecimento daquele diante do qual ele estava. Não era um fantasma ou um desvario dos outros discípulos. Era Jesus crucificado, ressuscitado por Deus, trazendo as marcas da paixão e a glória da ressurreição. Uma situação não se dissocia da outra: o crucificado-glorificado é o Ressuscitado com suas chagas.

O trecho do Evangelho se conclui com a menção de que Jesus realizou muitos sinais além dos relatados e conhecidos por nós. Ele continua a agir em nossa história humana. O que lemos e ouvimos sobre o Senhor é um apelo à fé, para que tenhamos vida no nome dele.

PISTAS PARA REFLEXÃO

 

Essas leituras nos impulsionam à relação com o Ressuscitado. Aquele que pode transformar nossos sentimentos diversos em paz e alegria para testemunhá-lo. Para isso, ele sopra sobre nós seu Espírito, para vivermos o perdão dos pecados.

Outras “chagas” se apresentam diante de nós no mundo contemporâneo. Os pobres, doentes e excluídos de nosso mundo representam novos rostos com os quais podemos praticar a experiência de Tomé. Tocar essas feridas de hoje implica ser presença solidária, acompanhar, contribuir, apoiar, alimentar uma sintonia e comunhão com aqueles que clamam por justiça e por uma presença consoladora, carregada de ternura e compaixão.

A experiência de encontro com o Senhor ressuscitado não é delírio dos primeiros discípulos ou idéia infundada da comunidade primitiva. A mudança de vida confirma o que o Espírito Santo gera naqueles que se dispõem a ele. Assim, que nossas liturgias nos ajudem a viver o compromisso do perdão e do amor, a exemplo de Jesus.

(*) Marcus Mareano
é bacharel em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará. Bacharel e mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje). Doutor em Teologia Bíblica, com dupla diplomação, pela Faje e pela Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica. Professor de Teologia na PUC-MG, também colabora com disciplinas isoladas em diferentes seminários. Desde 2018, é administrador paroquial da Paróquia São João Bosco, em Belo Horizonte-MG. E-mail: marcusmareano@gmail.com

Fonte: https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/2o-domingo-da-pascoa-11-de-abril/

 

 

A LITURGIA NO TEMPO PASCAL


Diácono Wallace Andrade Teixeira

Ao longo do Tempo Pascal, nas celebrações litúrgicas, a Igreja vem nos revelando o “rosto de Cristo Ressuscitado” no desejo de irmos, pedagogicamente, configurando a nossa vida com a de Jesus. Afinal, a ressurreição é algo que transforma a nossa vida. Vemos esta verdade em Pedro, João e os outros discípulos, que mesmo em suas simplicidades intelectuais, falavam com segurança e convicção deste amor manifestado por Cristo em sua vida, paixão, morte e ressurreição.

Esta prática não podia ser diferente, pois o Senhor havia tocado profundamente os seus corações, como toca constantemente o nosso nos dias de hoje. Assim, “no ponto nuclear da liturgia cristã está o evento crístico: vida, paixão, morte e ressurreição e ascensão de Jesus Cristo. Isso marca toda celebração litúrgica cristã e determina sua identidade.

De acordo com cada tempo litúrgico e segundo a motivação das respectivas celebrações, a liturgia acentua aspectos distintos e recorda os diversos acontecimentos da vida de Jesus; professa Cristo como servo de Deus, cordeiro imolado, como sumo sacerdote. Mas em todas essas distinções ela celebra sempre um único acontecimento crístico” (GERHARDS; KRANEMANN, 2012, p.160).

A liturgia então arrebata os fiéis em todos os seus órgãos sensoriais, percebendo pela fé, que o que aconteceu aos discípulos também acontece na assembleia litúrgica. E tendo passado o tempo das dúvidas, inquietações e medo, os discípulos deram conta de si e que de fato, estiveram com Jesus ressuscitado e aprenderam com Ele, como amar, andar, falar e dar nova vida aos que mais precisam. Eles também, e por isso hoje a assembléia reunida, não só podemos como devemos devolver a alegria aos corações desiludidos e desacreditados da Salvação. Ora, pela vontade do Senhor, “a vida cristã consiste numa comunidade de morte e ressurreição com Cristo que não deve ser entendida como uma união intencional, e sim como uma realidade objetiva, isto é, um morrer e um ressuscitar com Cristo de maneira místico-real” (FLORES, 2006, p.195).

O que nos recorda o antigo axioma: os sacramentos da nova lei realizam o que significam.  Logo, Jesus caminha conosco no mistério do culto, isto é, as ações sagradas que nós cumprimos, e nele está de forma visível e eficaz como que um prolongamento posterior da Sua economia de salvação. Através dos sacramentos, Deus realiza uma transformação no coração do homem, pois na participação destes, “o cristão não é mais um homem puro e simples como veio ao mundo, mas um homem transformado, um homem divinizado, regenerado por Deus, ele carrega em si a vida de Deus” (CASEL, 2011, p. 32). Diante de tal verdade, é necessário exclamar como Pedro: NÃO PODEMOS NOS CALAR SOBRE O QUE VIMOS E OUVIMOS! No Tempo Pascal, temos uma realização pessoal-comunitária do mistério salvífico operado por Cristo.

Compreende-se então, que a liturgia “por sua própria natureza, é a experiência que todo homem ou toda mulher deveria viver intensamente” (FLORES, 2006, p. 433). Cabe então, a todo homem e mulher, portadores do mistério de Cristo, continuar a missão de que o mundo morto para o pecado e conformado em Cristo “já não vivam para si mesmos, mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles” (2Cor 5,15). Essa é a oferta que a liturgia da Igreja convida a ser feita: a verdadeira oferta que o homem faz de si mesmo e suas vontades, devido ao dom total e amoroso realizado em cristo, a Deus.

Nessas quatro semanas do tempo pascal, dias da ressureição do Senhor, a fé foi severamente provada e Cristo comunicando ao mundo a sua vida divina, e hoje a exulta de alegria pelas maravilhas que Ele fez aos nossos olhos. Sabe-se que como Bom Pastor, Ele não abandona a humanidade à morte. Ele vive, Ele reina e é o Salvador presente na vida de todos. Pela Liturgia Ele aparece a Igreja, a continuação dos onze, e “como no caminho de Emaús, o Cristo Ressuscitado, vem falar na comunidade reunida em seu nome. Fala mediante a meditação e atualização das leituras bíblicas. Faz-nos compreender a Bíblia e a vida. Faz-nos enxergar para além das dificuldades do momento. Faz-nos acreditar e como que vislumbrar o futuro bom e bonito que Deus está preparando para seu povo” (BUYST, 2007, p. 30).

Portanto, é de suma importância, que se tome consciência de todos estes acontecimentos na liturgia. Trazer no coração e partilhar a outros corações o que se vive numa celebração eucarística. Abrir-se a luz de Cristo, visto que, por Ele é que somos chamados ao Pai e a resposta da humanidade como confirmação da promessa ver-se-á mais abundantemente os sinais que anunciam seu Reino acontecendo entre os homens e mulheres da terra, seus filhos adotivos por Cristo, com Cristo e em Cristo.

BUYST, Ione. Liturgia, de coração: espiritualidade da celebração. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2007. 136 p.

FLORES, Juan Javier. Introdução à teologia litúrgica. São Paulo: Paulinas, 2006. 437 p.

GERHARDS, Albert; KRANEMANN, Benedikt. Introdução à liturgia. São Paulo: Edições Loyola, 2012. 344 p.

CASEL, Odo. O Mistério do culto no cristianismo. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2011. 121 p.

Fonte: https://dioceseleopoldina.com.br/a-liturgia-no-tempo-pascal/

 

ATUALIDADE EM FOCO

Apesar da pandemia e da política, sempre há luz no final do túnel

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Francisco Borba Ribeiro Neto 

Para o cristão, a vida pode ser drama, mas não deveria se tornar tragédia; o túnel escuro pode ser longo, mas não é um buraco sem saída

É muito triste ver os brasileiros desesperançados diante da pandemia e da situação política do País. Pensávamos que 2021 seria um ano “mais normal”, mas vemos um recrudescimento da pandemia e temos a impressão de estarmos diante de uma quarentena interminável, com mortes, crise econômica e desemprego sem fim. Diante dessa conjuntura, realmente caótica e dramática, os políticos parecem continuar se orientando por interesses particulares, entregues a devaneios ideológicos ou a negociatas interesseiras. Uma sensação deprimente, mistura de impotência, raiva e desilusão, acomete a muitos de nós – e, convenhamos, com boa parcela de razão.

Contudo, para o cristão, a vida pode ser drama, mas não deveria se tornar tragédia; o túnel escuro pode ser longo, mas não é um buraco sem saída. A tragédia sempre acaba mal, mas o drama, apesar de todo o seu sofrimento, pode ter um desfecho feliz. As dificuldades, por mais dolorosas que sejam (e não há dor maior e mais inexorável do que a da morte) não se tornam tragédia na medida que são iluminadas pela luz no final do túnel: a esperança. Diante da situação atual, renova-se uma das grandes questões do cristianismo: de onde vem aquela esperança que “não decepciona”? 

Cristo é a esperança que não decepciona, mas essa frase pode parecer uma espécie de autoengano, um esforço piedoso para fugir da realidade, mais uma ideologia para iludir nossos corações doloridos (aliás, é assim que tanto o marxismo quanto o positivismo viram o cristianismo). O Papa Francisco, nas comemorações do Natal de 2020, em meio à pandemia, observou com propriedade: “Uma leitura da realidade sem esperança não se pode chamar realista. A esperança dá às nossas análises aquilo que muitas vezes o nosso olhar míope é incapaz de captar […] O nosso tempo também tem os seus problemas, mas possui igualmente o testemunho vivo de que o Senhor não abandonou o seu povo […] Quem não olha a crise à luz do Evangelho limita-se a fazer a autópsia dum cadáver: olha a crise, mas sem a esperança do Evangelho, sem a luz do Evangelho”.

Perder essa relação fundamental entre realismo e esperança é um sinal claro de que nossa mentalidade não é mais cristã, que – por mais que rezemos ou afirmemos princípios cristãos – estamos pensando como o mundo e não como os “amigos de Cristo”. Nesse artigo, não quero discorrer sobre a espiritualidade da esperança, outros em Aleteia podem fazê-lo muito melhor do que eu. Minha questão é como a mentalidade hegemônica na sociedade corrói a nossa esperança e nosso discernimento justamente no momento em que mais necessitamos deles.

A esperança que não é ilusão

Bento XVI tem uma percepção aguda da falta de esperança em nossa sociedade. Escreveu “Santo Agostinho […] notou uma reciprocidade entre scientia e tristitia: o simples saber, disse ele, deixa-nos tristes. E realmente quem se limita a ver e apreender tudo aquilo que acontece no mundo, acaba por ficar triste”. Mais adiante, no mesmo texto, irá citar o “otimismo que vive na fé cristã”, pois na fé aprendemos a bondade do Amor de Deus e que a verdade última se revela como bem para todos nós. Ciente, contudo, desse déficit de esperança em nosso tempo, o Papa emérito escreveu sua encíclica Spe salvi, “Salvos pela esperança” (SS, 2007).

A esperança, de certa forma, se identifica com a própria fé, observa Bento XVI (SS 2). Contudo, a fé que desabrocha como esperança não é um simples “acreditar em coisas que não se vêem”. Se fosse assim, pareceria realmente um discurso ilusório. A fé, em sua essência, é o reconhecimento da presença de Deus em nossa vida. Uma presença que se tornará dominante na vida eterna, mas que já está presente e operando agora (cf. SS 7). Nesse sentido, podemos entender que a fé se apóia numa experiência pessoal de encontro com Cristo.

A fé nos foi transmitida pelo anúncio de outros que conheceram a Cristo antes de nós, mas como os samaritanos, também podemos dizer: “Já não é por causa do que você falou que cremos. Nós mesmos O ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (Jo 4, 42). Se perdemos de vista as maravilhas do amor de Deus que testemunhamos em nossas vidas, aquilo que vimos acontecer, conosco e com os demais, não conseguimos ter esperança. Quando perdemos a esperança, é sinal de que não mais “fazemos memória” daquilo que o Senhor já fez por nós. Para o cristão, memória e esperança são indissociáveis.

Mas, a lembrança das coisas boas do passado não é suficiente para nos manter firmes no presente, quando esse se apresenta cheio de problemas, dificuldades e sofrimentos. Aqui, talvez, o testemunho dos casados há muito tempo pode ser de ajuda para nós. A vida de um casal não é feita apenas de momentos bons. Todos acumulam, em sua vida conjugal, alegrias e tristezas, beleza e sofrimento. Contudo, quando olham retrospectivamente, os cônjuges percebem que tanto os momentos bons quanto os difíceis ajudaram a construir e solidificar o amor de um pelo outro – mais ainda, tanto as alegrias quanto as tristezas são necessárias para que a comunhão entre os esposos se fortaleça e se torne certeza para toda a vida.

Para quem vive à luz do amor, todo acontecimento é ocasião para reafirmar a beleza do amor, mesmo quando se revela na dor e no sofrimento. Assim é com os esposos, assim é com os cristãos em sua relação com Deus. Todo acontecimento nos dá oportunidade para aprofundarmos nossa experiência de sermos amados por Deus – e, portanto, também a nossa fé, que se manifesta como esperança. As dificuldades desse tempo de pandemia e escândalos políticos não são diferentes das outras… Podem igualmente servir para fortalecer nossa fé e nossa esperança.

O grande obstáculo

Como a mentalidade dominante se interpõe a esse caminho de amadurecimento cristão? Nos fazendo olhar apenas para nós mesmos. Vivemos numa sociedade individualista, onde a satisfação da própria vontade é confundida com a realização integral da pessoa. Coisas, acontecimentos e pessoas são mensurados em termos do quanto de prazer nos proporcionam. Ser feliz, acreditamos nesses nossos tempos, é fazer o que se quer. Quanto menos olharmos para os outros e para as circunstâncias, melhor.

Com isso, deixamos não só de olhar para nossos irmãos, mas também para Deus. Ele passa a ser alguém a quem pedir exaustivamente que satisfaça nossas vontades. E quando elas não se realizam? Talvez não deixemos de “acreditar” Nele, mas nos desesperamos. Uma fé assim não é memória do encontro com Cristo, mas reafirmação de nossas ideias e vontades. Esse é o grande obstáculo que não nos permite viver com otimismo e amor as dificuldades e até as dores, que realmente acontecem e não deixarão de nos fazer sofrer – mas que não precisam dar a última palavra sobre a nossa vida.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2021/03/28/apesar-da-pandemia-e-da-politica-sempre-ha-luz-no-final-do-tunel/

 

ENSINAMENTOS DE SANTO AGOSTINHO

A MISERICÓRDIA, ROSTO DE DEUS

A teologia, o pensamento e a vida cotidiana de santo Agostinho estiveram marcados pela misericórdia. Deste modo o mesmo Bispo de Hipona nos diz o que é a misericórdia, assinalando com isso não só o sentido etimológico da palavra, mas também a profunda ressonância bíblica e teológica que tal palavra deve ter na vida de todo aquele que tem fé: A misericórdia traz em seu nome outras duas palavras: ‘miseria’ e ‘cor’ (‘miséria’ e ‘coração’). Fala-se de misericórdia quando a miseria alheia toca e sacode teu coração. Todas as obras boas que realizamos nesta vida caem dentro da misericórdia. (s. 358, 1).

 

O Pai, o Filho e o Espírito

Deus é o primeiro que exercita a misericórdia. Uma misericórdia que se manifesta, em primeiro lugar, no ato da encarnação do Filho, no qual o Cristo, o Bom Samaritano (en. Ps. 125, 15), baixa dos céus para resgatar ao homem que havia perdido todos seus dons ao ter sido despojado por Satanás. Cristo é, pois, o primeiro exemplo de misericórdia e é quem revela como é a misericórdia do Pai (s. 192, 3).

 

Trata-se de uma misericórdia infinita e abundante (s. 47, 5), sempre à disposição do homem, que sempre será miserável e estará absolutamente necessitado dessa misericórdia divina. Por isso santo Agostinho repete em sua obra que “a misericórdia de Deus se adianta a nós (s. 112A, 6), ou que só nela está posta a esperança humana, dado que o homem por seus próprios méritos não pode fazer nada: “Nossa esperança está, pois, na misericórdia de Deus” (s. 179A, 1). De fato, esta esperança o leva a fazer sua própria “profissão de fé” na manifestação desta misericórdia de Deus por meio de sua graça: “Toda minha esperança está em tua grande misericórdia. Dá o que mandas e manda o que queiras” (Conf. 10. 40).

 

A misericórdia de Deus nos é transmitida através do Espírito Santo, pelo qual o amor de Deus é derramado em nossos corações (Rom 5, 5): Ele é a misericórdia de Deus, “o dom de Deus, a graça de Deus, a abundância de sua misericórdia para conosco” (s. 270, 1).

 

A misericórdia praticada pelo homem

 

Esta mesma misericórdia de Deus, ao ser a esperança dos pecadores, deve ser acima de tudo um chamado à conversão, e não uma desculpa para pecar. Por isso santo Agostinho acentua de maneira paralela a misericórdia de Deus, junto com sua justiça, dizendo que o tempo presente é tempo de misericórdia, mas que depois virá o momento do juízo: “Cantaremos ao Senhor a misericórdia e o juízo; primeiro se envia a misericórdia, depois se faz o julgamento. A separação ocorrerá no julgamento. Agora, escute-me o que é bom, e faça-se melhor; escute-me também o mal, e converta-se em bom enquanto é tempo de arrependimento e antes que seja proferida a sentença”. (s. 250, 2)

 

Neste juízo final haverá misericórdia para quem foi misericordioso, mas não para quem a negou, como no caso do rico néscio da parábola do pobre Lázaro, caso que é comentado por santo Agostinho como uma exortação a pratica da misericórdia neste tempo de peregrinação, antes de chegar o dia do julgamento: Deu-se conta de que lhe era negada a misericórdia que ele havia negado. Deu-se conta de que é certo que haverá um juízo sem misericórdia para quem não a teve (s. 41, 4).

 

As obras de misericórdia

E precisamente a misericórdia de Deus deve ser um modelo e paradigma para o ser humano, para que ele por sua vez seja misericordioso com aqueles que o rodeiam. Neste sentido santo Agostinho exorta às diversas obras de misericórdia, acentuando que a primeira obra de misericórdia que uma pessoa deve realizar é para com sua própria alma; deve considerar o destino eterno de seu próprio ser e evitar o pecado para poder alcançar o reino dos céus. “Praticai a esmola autêntica. Que é a esmola? A misericórdia. Escuta a Escritura: Compadece-te de tua alma agradando a Deus. Pratica a esmola: compadece-te de tua alma agradando a Deus. Tua alma mendiga ante tuas portas; regressa a tuas consciências” (s. 106, 4).

 

E com todas as demais obras de misericórdia, santo Agostinho antes de tudo indica a esmola e a ajuda aos pobres, pois esta encerra uma dupla obra de misericórdia, já que quem dá esmola pessoalmente, por um lado se compadece do pobre, por outro lado é misericordioso consigo mesmo ao saber-se limitado e necessitado: “Outra advertência quero vos fazer: sabei que quem dá pessoalmente algo aos pobres realiza uma dupla obra de misericórdia” (s. 259, 5).

 

Santo Agostinho nos exorta a realizar obras de misericórdia a toda pessoa que nos pede. Não obstante, em situações particulares ou em doações de certo valor, santo Agostinho é o único Padre da Igreja que se faz eco, curiosamente, de uma frase da Didaché (1.6): “e a Escritura diz em outro lugar: Que esmola transpire em tuas mãos até que encontres o justo a quem deves entregá-la (en. Ps. 146, 17). Embora seja certo que santo Agostinho crê que esta frase é da Escritura, o fundamental é que nos exorta a fazer bem o bem, ou seja, a praticar a misericórdia com sapiência e prudência.

 

O Agostinho misericordioso

O mesmo santo Agostinho será uma pessoa que em sua prática pastoral manifestará a misericórdia, tanto pessoalmente, dando aos pobres o que pode e tem, como por meio de duas instituições episcopais em sua diocese de Hipona, como foram a matricula pauperum (ep. 20*, 2) e o xenodochium (s. 356, 10). A primeira era uma lista das pessoas ou famílias mais pobres, às quais socorria periodicamente com os alimentos e elementos necessários. O xenodochium era um albergue onde se ajudava os estrangeiros, peregrinos, pobres e necessitados da diocese de Hipona.

 

E este exemplo de misericórdia de seu pastor levou o povo fiel de Hipona a imitar seu comportamento, de modo que em uma ocasião em que santo Agostinho estava ausente, os leigos reuniram uma boa quantia de dinheiro para resgatar a mais de 200 pessoas que haviam sido sequestradas e eram levados para ser vendidos como escravos. O exemplo da misericórdia de Deus e de Cristo havia levado Agostinho a ser misericordioso, e seu próprio exemplo levou seus fiéis a imitar suas ações. Obviamente, quando teve conhecimento do fato, o santo não pode senão louvar a fé e a misericórdia de seus fiéis (ep. 10*, 7).

 

Em um mundo sem misericórdia como o nosso, poder resgatar a misericórdia em seu sentido mais evangélico e agostiniano será, sem dúvida, uma alternativa e a solução a muitos dos problemas que afligem a humanidade, particularmente o da falta de valores e de coração no mundo.

Fonte: https://www.agustinosrecoletos.com/2015/08/a-misericordia-rosto-de-deus-para-santo-agostinho/?lang=pt-

 

MANTENDO A FÉ

A ORAÇÃO, O JEJUM E A MISERICÓRDIA

Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá – PR

Há três coisas, meus irmãos, três coisas que mantêm a fé, dão firmeza à devoção e a perseverança à virtude. São elas: a oração, o jejum e a misericórdia. O que a oração pede, o jejum alcança e a misericórdia recebe. Oração, misericórdia, jejum: três coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente.

O jejum é a alma da oração e a misericórdia dá vida ao jejum. Ninguém queira separar estas três coisas, pois são inseparáveis. Quem pratica somente uma delas ou não pratica todas simultaneamente, é como se nada fizesse.

Por conseguinte, quem ora também jejue; e quem jejua, pratique a misericórdia. Quem deseja ser atendido nas suas orações, atenda as súplicas de quem lhe pede; pois aquele que não fecha seus ouvidos às súplicas alheias, abre os ouvidos de Deus às suas próprias súplicas.

Quem jejua, pense no sentido do jejum; seja sensível à fome dos outros quem deseja que Deus seja sensível à sua; seja misericordioso quem espera alcançar misericórdia; quem pede compaixão, também se compadeça; quem quer ser ajudado, ajude os outros. Muito mal suplica quem nega aos outros aquilo que pede para si.

Homem, se para ti mesmo a medida da misericórdia; deste modo alcançarás misericórdia como quiseres, quanto quiseres e com a rapidez que quiseres; basta que te compadeças dos outros com generosidade e presteza.

Peçamos, portanto, destas três virtudes – oração, jejum, misericórdia – uma única força mediadora junto de Deus em nosso favor; sejam para nós uma única defesa, uma única oração sob três formas distintas. Reconquistemos pelo jejum o que perdemos por não saber apreciá-lo; imolemos nossas almas pelo jejum, pois nada melhor podemos oferecer a Deus como ensina o Profeta: Sacrifício agradável a Deus é um espírito penitente; Deus não despreza um coração arrependido e humilhado (cf. Sl 50,19).

Homem, oferece a Deus a tua alma, oferece a oblação do jejum, para que seja uma oferenda pura, um sacrifício santo, uma vítima viva que ao mesmo tempo permanece em ti e é oferecida a Deus. Quem não dá isto a Deus não tem desculpa, porque todos podem se oferecer a si mesmos.

Mas, para que esta oferta seja aceita por Deus, a misericórdia deve acompanhá-la; o jejum só dá frutos se for regado pela misericórdia. O que a chuva é para a terra, é a misericórdia para o jejum. Por mais que cultive o coração, purifique o corpo, extirpe os maus costumes e semeie as virtudes, o que jejua não colherá frutos se não abrir as torrentes da misericórdia”. (Carta de São Pedro Crisólogo, século IV).

Fonte: https://www.cnbb.org.br/a-oracao-o-jejum-e-a-misericordia/

 

 

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Livro: FAMÍLIA PROJETO DIVINO.

LIVRO FAMÍLIA, PROJETO DIVINO

Um Livro Digital dedicado a ajudar casais e famílias a viver em paz e harmonia, seguindo os ensinamentos da Palavra de Deus e o exemplo da Sagrada Família. Também recomendado para Casais de Noivos e pessoas interessadas em formar uma Família. Esse livro é resultado da coletânea de informações e conselhos do que funcionou bem para a família do autor, que hoje vivem em completa harmonia.

Família Projeto Divino

Neste Livro buscamos a Evangelização, e mostrar que é possível, assim como foi para nós, que todas as famílias podem viver em harmonia, com Amor, Paz, Felicidade.

No mundo de hoje as famílias são bombardeadas com coisas nocivas, são os vícios, os relacionamentos difíceis, as tentações que entram em nossos lares através da mídia, seja televisão, redes sociais, a descrença, a desconfiança em tudo e em todos. E aqui neste livro você verá que para tudo tem uma solução amigável, a qual se busca através do Amor, do Entendimento, e principalmente na Palavra de Deus e nos ensinamentos de Jesus através dos Evangelhos.

Para que a Família seja harmoniosa também é preciso que marido e esposa se amem, se declarem um ao outro, sem medos, vergonhas ou mentiras, e mostramos poemas de romantismo, pois o romantismo deve existir entre os casais, por que onde há esse romantismo, essa declaração de amor, de cumplicidade, fará com que os filhos percebam e sigam da mesma forma amável e harmoniosa, por que o exemplo do pai e da mãe se reflete na educação dos filhos.

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