Diácono Wallace Andrade Teixeira
Ao
longo do Tempo Pascal, nas celebrações litúrgicas, a Igreja vem nos revelando o
“rosto de Cristo Ressuscitado” no desejo de irmos, pedagogicamente,
configurando a nossa vida com a de Jesus. Afinal, a ressurreição é algo que
transforma a nossa vida. Vemos esta verdade em Pedro, João e os outros discípulos,
que mesmo em suas simplicidades intelectuais, falavam com segurança e convicção
deste amor manifestado por Cristo em sua vida, paixão, morte e ressurreição.
Esta
prática não podia ser diferente, pois o Senhor havia tocado profundamente os
seus corações, como toca constantemente o nosso nos dias de hoje. Assim, “no
ponto nuclear da liturgia cristã está o evento crístico: vida, paixão, morte e
ressurreição e ascensão de Jesus Cristo. Isso marca toda celebração litúrgica
cristã e determina sua identidade.
De
acordo com cada tempo litúrgico e segundo a motivação das respectivas
celebrações, a liturgia acentua aspectos distintos e recorda os diversos
acontecimentos da vida de Jesus; professa Cristo como servo de Deus, cordeiro
imolado, como sumo sacerdote. Mas em todas essas distinções ela celebra sempre
um único acontecimento crístico” (GERHARDS; KRANEMANN, 2012, p.160).
A
liturgia então arrebata os fiéis em todos os seus órgãos sensoriais, percebendo
pela fé, que o que aconteceu aos discípulos também acontece na assembleia
litúrgica. E tendo passado o tempo das dúvidas, inquietações e medo, os
discípulos deram conta de si e que de fato, estiveram com Jesus ressuscitado e
aprenderam com Ele, como amar, andar, falar e dar nova vida aos que mais precisam.
Eles também, e por isso hoje a assembléia reunida, não só podemos como devemos
devolver a alegria aos corações desiludidos e desacreditados da Salvação. Ora,
pela vontade do Senhor, “a vida cristã consiste numa comunidade de morte e
ressurreição com Cristo que não deve ser entendida como uma união intencional,
e sim como uma realidade objetiva, isto é, um morrer e um ressuscitar com
Cristo de maneira místico-real” (FLORES, 2006, p.195).
O
que nos recorda o antigo axioma: os sacramentos da nova lei realizam o que
significam. Logo, Jesus caminha conosco no mistério do culto, isto é, as
ações sagradas que nós cumprimos, e nele está de forma visível e eficaz como
que um prolongamento posterior da Sua economia de salvação. Através dos
sacramentos, Deus realiza uma transformação no coração do homem, pois na
participação destes, “o cristão não é mais um homem puro e simples como veio ao
mundo, mas um homem transformado, um homem divinizado, regenerado por Deus, ele
carrega em si a vida de Deus” (CASEL, 2011, p. 32). Diante de tal verdade, é
necessário exclamar como Pedro: NÃO PODEMOS NOS CALAR SOBRE O QUE VIMOS E
OUVIMOS! No Tempo Pascal, temos uma realização pessoal-comunitária do mistério
salvífico operado por Cristo.
Compreende-se
então, que a liturgia “por sua própria natureza, é a experiência que todo homem
ou toda mulher deveria viver intensamente” (FLORES, 2006, p. 433). Cabe então,
a todo homem e mulher, portadores do mistério de Cristo, continuar a missão de
que o mundo morto para o pecado e conformado em Cristo “já não vivam para si
mesmos, mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles” (2Cor 5,15). Essa é
a oferta que a liturgia da Igreja convida a ser feita: a verdadeira oferta que
o homem faz de si mesmo e suas vontades, devido ao dom total e amoroso
realizado em cristo, a Deus.
Nessas
quatro semanas do tempo pascal, dias da ressureição do Senhor, a fé foi
severamente provada e Cristo comunicando ao mundo a sua vida divina, e hoje a
exulta de alegria pelas maravilhas que Ele fez aos nossos olhos. Sabe-se que
como Bom Pastor, Ele não abandona a humanidade à morte. Ele vive, Ele reina e é
o Salvador presente na vida de todos. Pela Liturgia Ele aparece a Igreja, a
continuação dos onze, e “como no caminho de Emaús, o Cristo Ressuscitado, vem
falar na comunidade reunida em seu nome. Fala mediante a meditação e
atualização das leituras bíblicas. Faz-nos compreender a Bíblia e a vida.
Faz-nos enxergar para além das dificuldades do momento. Faz-nos acreditar e
como que vislumbrar o futuro bom e bonito que Deus está preparando para seu
povo” (BUYST, 2007, p. 30).
Portanto,
é de suma importância, que se tome consciência de todos estes acontecimentos na
liturgia. Trazer no coração e partilhar a outros corações o que se vive numa
celebração eucarística. Abrir-se a luz de Cristo, visto que, por Ele é que
somos chamados ao Pai e a resposta da humanidade como confirmação da promessa
ver-se-á mais abundantemente os sinais que anunciam seu Reino acontecendo entre
os homens e mulheres da terra, seus filhos adotivos por Cristo, com Cristo e em
Cristo.
BUYST, Ione. Liturgia, de coração: espiritualidade da celebração. 2. ed.
São Paulo: Paulus, 2007. 136 p.
FLORES, Juan Javier. Introdução à teologia litúrgica. São Paulo: Paulinas, 2006. 437 p.
GERHARDS, Albert; KRANEMANN, Benedikt. Introdução à liturgia. São Paulo: Edições Loyola, 2012. 344
p.
CASEL, Odo. O Mistério do culto no cristianismo. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola,
2011. 121 p.
Fonte: https://dioceseleopoldina.com.br/a-liturgia-no-tempo-pascal/
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