LEITURA ORANTE DA LITURGIA DIÁRIA
Cor Litúrgica: Roxo
Semana Santa | Quarta-Feira | 16/04/2025
Chegamos à Quarta-feira da Semana Santa, tradicionalmente chamada de "Quarta-feira das Trevas", porque nela ressoa a traição de Judas, aquele que vende o Mestre por trinta moedas. O clima da liturgia é de tristeza serena, de preparação silenciosa para os acontecimentos que se aproximam. Mas, ao mesmo tempo, é também um convite à fidelidade silenciosa e corajosa diante da adversidade.
Na Primeira Leitura, o Servo do Senhor aparece como alguém treinado por Deus para consolar os abatidos, alguém que escuta e permanece firme, mesmo diante das agressões, dos insultos e da dor. Sua confiança está no Senhor, por isso ele não recua, não se deixa abater. O rosto impassível como pedra é o sinal da fidelidade absoluta, da certeza de que Deus é o seu auxílio.
O Salmo expressa o lamento do justo que sofre. “O insulto me partiu o coração... Deram-me fel como se fosse alimento, e vinagre na minha sede.” Essas palavras se cumprem perfeitamente na Paixão de Jesus. Ele, o Inocente, assume o sofrimento em silêncio e transforma a dor em redenção. Mesmo rejeitado e ferido, Ele canta louvores ao Pai e oferece a salvação aos que o buscam com humildade.
No Evangelho de Mateus vemos a traição tomar forma concreta. Judas entrega Jesus por moedas. O Mestre, que conhece os corações, denuncia com dor a traição que parte da intimidade da mesa. E ainda assim, não reage com dureza, mas com a verdade. Ele não fecha as portas para Judas, mas este escolhe a noite. Enquanto os discípulos perguntam com temor: “Serei eu, Senhor?”, somos convidados a fazer o mesmo exame de consciência.
Hoje é um dia para silenciar o coração, olhar para dentro de nós e reconhecer que também nós, muitas vezes, entregamos o Senhor — por egoísmo, por medo, por tibieza. Mas também é o dia de reafirmar nossa esperança: o Servo sofre, mas não se abate; o justo clama, e Deus escuta; o traído continua a amar.
LITURGIA - PRIMEIRA LEITURA
Primeira Leitura (Is 50,4-9a)
Leitura do Livro do Profeta Isaías
4 O Senhor Deus deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida; ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo. 5 O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás. 6 Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba: não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. 7 Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado. 8 A meu lado está quem me justifica; alguém me fará objeções? Vejamos. Quem é meu adversário? Aproxime-se. 9a Sim, o Senhor Deus é meu Auxiliador; quem é que me vai condenar?
- Palavra do Senhor.
- Graças a Deus.
LEITURA ORANTE - LECTIO DIVINA
O que a Palavra diz?
O Servo do Senhor fala com humildade e força. Ele foi preparado por Deus não para grandes discursos, mas para consolar os abatidos com palavras sábias. Ele escuta antes de falar, porque sua missão nasce da intimidade com o Senhor. Não recua diante da violência, não se intimida com as ofensas. Suas costas foram feridas, seu rosto foi atingido, mas sua alma permaneceu firme. Ele não se deixa abater porque confia plenamente em Deus, que é seu Auxiliador e Justificador.
O que a Palavra nos diz?
Essa figura do Servo encontra seu ápice em Jesus Cristo, especialmente nesta Semana Santa. Ele, que poderia se defender, permanece em silêncio diante dos que o ferem. Ele, que poderia humilhar os adversários, escolhe o caminho da mansidão. Seu rosto é firme como pedra, não por dureza, mas por fidelidade. Ele sabe que o Pai está com Ele, e isso lhe basta.
Neste dia, a Palavra nos chama à coragem serena da fé. Quantas vezes, diante da injustiça ou da dor, pensamos em recuar, em nos calar ou em retaliar. O Servo nos ensina a permanecer firmes, confiantes de que não estamos sozinhos. Deus está ao nosso lado, e isso nos dá ânimo para resistir, amar e suportar, sem desviar o rosto, sem perder o coração.
O que a Palavra nos faz dizer?
Oremos: Senhor Jesus, que, mesmo ferido, permaneceste fiel ao Pai, ensina-nos a ser discípulos que escutam, que consolam e que perseveram. Dá-nos a firmeza da tua entrega e a serenidade de quem sabe que o Pai está presente. Amém.
LITURGIA - SALMO DO DIA
Salmo Responsorial Sl 68(69),8-10.21bcd-22.31 e 33-34 (R. 14cb)
— Respondei-me pelo vosso imenso amor, neste tempo favorável, Senhor Deus.
— Por vossa causa é que sofri tantos insultos, e o meu rosto se cobriu de confusão; eu me tornei como um estranho a meus irmãos, como estrangeiro para os filhos de minha mãe. Pois meu zelo e meu amor por vossa casa me devoram como fogo abrasador; e os insultos de infiéis que vos ultrajam recaíram todos eles sobre mim!
— O insulto me partiu o coração; Eu esperei que alguém de mim tivesse pena; procurei quem me aliviasse e não achei! Deram-me fel como se fosse um alimento, em minha sede ofereceram-me vinagre!
— Cantando eu louvarei o vosso nome e agradecido exultarei de alegria! Humildes, vede isto e alegrai-vos: o vosso coração reviverá, se procurardes o Senhor continuamente! Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres, e não despreza o clamor de seus cativos.
LEITURA ORANTE - LECTIO DIVINA
O que o Salmo diz?
O salmo é um lamento do justo perseguido, alguém que sofre por causa de sua fidelidade a Deus. Ele é rejeitado pelos próprios irmãos, insultado e abandonado. O salmista carrega em si o peso da injustiça, da incompreensão, da traição. Em meio ao sofrimento, ele clama com confiança: “Respondei-me, Senhor, pelo vosso imenso amor, neste tempo favorável”. O coração partido transforma-se em oração, e a dor se converte em louvor.
O que o Salmo nos diz?
Este salmo ganha um significado ainda mais profundo à luz da Paixão de Jesus. Nele reconhecemos a figura do Cristo sofredor, rejeitado, zombado, que recebe fel e vinagre no lugar de consolo. Ele, o Justo, assume sobre si o peso das nossas culpas e dores. E, mesmo assim, sua boca proclama louvor. Ele nos ensina que a oração mais verdadeira pode nascer em meio à cruz.
Neste tempo favorável — a Semana Santa — somos convidados a unir nossa dor à d’Ele, a reconhecer que Deus não despreza o clamor dos pobres, nem o sofrimento dos que o amam. A dor, quando unida ao louvor, transforma-se em caminho de redenção.
O que o Salmo nos faz dizer?
Oremos: Senhor, quando a dor me visitar, que eu saiba transformar o meu lamento em oração. Que, mesmo sem consolo humano, eu não perca a esperança em ti. Responde-me, Senhor, com teu amor fiel. Que minha alma te louve, mesmo no meio da dor. Amém.
LITURGIA - EVANGELHO
Evangelho (Mt 26,14-25)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 14 um dos doze discípulos, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes 15 e disse: "O que me dareis se vos entregar Jesus?" Combinaram, então, trinta moedas de prata. 16 E daí em diante, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus. 17 No primeiro dia da festa dos Ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: "Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?" 18 Jesus respondeu: "Ide à cidade, procurai certo homem e dizei-lhe: 'O Mestre manda dizer: o meu tempo está próximo, vou celebrar a Páscoa em tua casa, junto com meus discípulos'". 19 Os discípulos fizeram como Jesus mandou e prepararam a Páscoa. 20 Ao cair da tarde, Jesus pôs-se à mesa com os doze discípulos. 21 Enquanto comiam, Jesus disse: "Em verdade eu vos digo, um de vós vai me trair". 22 Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a lhe perguntar: "Senhor, será que sou eu?" 23 Jesus respondeu: "Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato. 24 O Filho do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura a respeito dele. Contudo, ai daquele que trair o Filho do Homem! Seria melhor que nunca tivesse nascido!" 25 Então Judas, o traidor, perguntou: "Mestre, serei eu?" Jesus lhe respondeu: "Tu o dizes".
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
LEITURA ORANTE - LECTIO DIVINA
O que o Evangelho diz?
Neste Evangelho, o drama da traição atinge seu ponto decisivo. Judas, um dos Doze, procura os sumos sacerdotes e vende Jesus por trinta moedas de prata. A quantia é simbólica: representa o preço de um escravo. Jesus, o Filho de Deus, é entregue por um valor irrisório. E, enquanto os discípulos se preparam para a Páscoa, Judas prepara a entrega do Mestre. Durante a ceia, Jesus revela que será traído por alguém à mesa — alguém íntimo, alguém que partilha o pão com Ele.
O que o Evangelho nos diz?
O clima do texto é de tristeza e tensão. Os discípulos se inquietam: “Senhor, serei eu?” A pergunta não é de suspeita, mas de consciência. Todos, de algum modo, sentem-se vulneráveis, todos sabem que são capazes de fraquejar. E Judas, o traidor, mesmo com o coração fechado, ainda ouve a verdade sair da boca de Jesus: “Tu o dizes.”
Hoje, a Palavra nos convida a um profundo exame de consciência. Também nós sentamos à mesa com o Senhor. Também nós recebemos dele o pão da vida. Mas… como anda nosso coração? Estamos apenas perto fisicamente, ou também espiritualmente? A maior traição não é o erro, mas a recusa em amar. Jesus conhece nossas fraquezas, mas continua nos oferecendo a chance de conversão.
O que o Evangelho nos faz dizer?
Oremos: Senhor Jesus, tantas vezes te traí com minhas escolhas, minhas omissões, meu egoísmo. E mesmo assim Tu me acolhes, me chamas, me dás o pão. Não permitas que eu me acostume com a tua presença sem amor. Dá-me um coração sincero e fiel. Amém.
Que Deus te abençoe, hoje e sempre!
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